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ANIVERSÁRIO DA CIDADE Montes Claros faz história e resgata tradição interrompida há quase sete décadas
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Publicado em 01/07/2023

ANIVERSÁRIO DA CIDADE

Montes Claros faz história e resgata tradição interrompida há quase sete décadas

Texto: Jerusia Arruda

Fotos: Divulgação e Acervo da Família Maciel

Nesta segunda-feira, dia 3 de julho, a cidade de Montes Claros completa 166 anos. Para celebrar a data, a Prefeitura preparou uma programação especial, que será realizada no Parque de Exposições João Alencar Athayde, com início pela manhã e encerramento à meia-noite.

Para o prefeito Humberto Souto, é um privilégio comemorar o aniversário da cidade junto com a população. “Neste dia de aniversário, quero, não apenas como Humberto Souto, nascido nesta terra querida, mas como prefeito de todos, cumprimentar com muita alegria o nosso povo, desejando sempre que tenhamos uma cidade cada vez melhor para se viver. Parabéns, Montes Claros!”, comemora.

Além dos shows musicais, um dos destaques da programação de aniversário será a realização da Cavalhada, antiga tradição portuguesa que era bem comum em Minas Gerais na época do Ciclo do Ouro e que foi realizada em Montes Claros até o século passado, sendo o último registro de sua ocorrência no dia 3 de julho de 1957, nas comemorações do centenário da cidade.

Júnia Rebello Veloso, secretária municipal de Cultura, explica que a realização da Cavalhada, 66 anos depois, tem um significado muito especial para os montes-clarenses. “Há algum tempo, a família Maciel vem trabalhando com o projeto de retomada da Cavalhada, como forma de celebrar o centenário do Nivaldo Maciel, entendendo que seria uma forma de retrato da presença dele na cidade, uma vez que a Cavalhada era uma coisa de que ele gostava muito. E o momento mais adequado para realizar esse evento seria justamente retomar do ponto onde parou, que foi em 3 de julho de 1957, quando a cidade estava comemorando seu centenário. Como nesse dia o espaço da festa no Parque de Exposições é do Município, a Prefeitura prontamente acolheu a ideia e ofereceu todo o apoio necessário para a realização do evento, entendendo que seria um presente para a população e, principalmente, um marco cultural por se tratar da nossa identidade, das nossas memórias, e evidenciando a participação de pessoas que nos ajudaram a construir tudo isso, que foi o caso de Nivaldo Maciel”, explica.

Idealizador do projeto de retomada da Cavalhada, Murilo Maciel, filho de Nivaldo Maciel, diz que está trabalhando nesta ideia desde 2005. “Na apresentação da Cavalhada no Centenário de Montes Claros, meu pai representou o rei mouro, ao lado da princesa representada por Alaíde Nunes Oliveira, que ainda está conosco. E o meu pai tinha muito orgulho disso. Por isso nos dedicamos a esse projeto, porque é uma forma fazer um resgate cultural e, ao mesmo tempo, reverenciar a memória de toda essa geração, que participou da construção da nossa cidade”, explica.

A Cavalhada do Centenário foi organizada pelo Dr. Hermes de Paula e contou com a participação do então presidente da República Juscelino Kubitschek, e do governador Bias Fortes. O prefeito, na época, era Geraldo Athayde. “Segundo registros, foi uma semana de festa, com desfile nas ruas e Montes Claros respirando o Centenário. E foi dada muita ênfase a esse evento porque Montes Claros tinha, em decorrência de sua história, uma fama de cidade violenta. E a ideia do Dr. Hermes de Paula, com a Cavalhada, era reverter essa imagem e, ao mesmo tempo, atrair a atenção para a cidade, com a presença do presidente da República e do governador, e trazer investimentos das esferas estadual e federal para cá”, conta Murilo Maciel.

Segundo registros, o evento era realizado em Montes Claros desde 1905. “A nossa ideia era retomar a apresentação nas comemorações dos 150 anos de Montes Claros, em 2007. Através do Núcleo do Cavalo Mangalarga Marchador, foi então solicitado à Unimontes que fizesse uma pequisa sobre a Cavalhada e o então reitor Paulo César Gonçalves de Almeida colocou à disposição o Departamento de História que fez a pesquisa, concluída às vésperas das comemorações, em 2006”, lembra.

Mas, por várias razões, não foi possível organizar e apresentar a Cavalhada nessa data, infelizmente. A partir daí, com os festejos do Centenário de Nivaldo Maciel, a família Maciel se reuniu para resgatar os estudos e fazer novas pesquisas da Cavalhada. “Hoje, estamos com tudo pronto para celebrar o aniversário de 166 anos de Montes Claros com esse grande teatro, que a gente espera que, a partir de agora, passe a fazer parte das festividades, todos os anos”, planeja.

 Cavalhada Nivaldo Maciel

Ícone da história e da cultura montes-clarense, Nivaldo Maciel (1920-2009), intérprete de modas de viola, poeta, seresteiro, sapateador, dançador de lundus e guaianos, tropeiro, aboiador, político, chefe de família e pai de 11 filhos, dá nome à Cavalhada de Montes Claros, que passa a ter elementos exclusivos.

 A Cavalhada, como é tradicionalmente conhecida, representa as batalhas entre mouros (muçulmanos) e cristãos ocorridas na Idade Média, na época da reconquista da Península Ibérica (hoje Portugal e Espanha), e que foram romantizadas pelo teatro. A manifestação cultural foi trazida para o Brasil pelos portugueses e se incorporou às manifestações culturais em todas as regiões do país.

 O enredo, basicamente, conta que o rei mouro se apaixona pela filha do rei cristão e propõe casar-se com ela e unir os dois reinos. O rei cristão diz que só concorda com o casamento se o rei mouro se converter ao cristianismo. O rei mouro não aceita e rapta a princesa e a leva para o seu reino. Os dois reinos entram em guerra e, na última batalha, o rei mouro se rende e se submete ao rei cristão, quando é feita a conversão do exército mouro e celebrado o casamento do rei com a princesa.

 Mas, na Cavalhada Nivaldo Maciel, foram incluídos novos elementos, que tornam a encenação única. “Foi incluída uma abertura cívica, para celebrar o aniversário da cidade e apresentar um resumo da história do surgimento de Montes Claros, e só então é encenado o enredo tradicional. E, ao final, também foi inserido mais um personagem, que é o Cavaleiro da Paz, vestido de branco, que circula pela arena fazendo um clamor pela paz, num belíssimo texto de autoria do jornalista Benedito Said”,  antecipa Murilo Maciel.

 Outra novidade, segundo Murilo Maciel, é o encerramento da Cavalhada, que contará com a participação de membros de movimentos culturais da cidade, como os Catopês, Marujos e Caboclinhos, formando um grande cortejo, “simbolizando a reincorporação da Cavalhada à cultura de Montes Claros e, também, ressaltando a cultura como um único corpo”.

 Numa segunda fase do projeto, Murilo conta que será preparado um material gráfico, com encartes e livros, contando a história de Montes Claros, tendo a Cavalhada como parte dessa história. “Esse material será disponibilizado para escolas e bibliotecas, para que as novas gerações conheçam a história da nossa cidade. Vamos fazer isso em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. E todos o material de pesquisa reunido nesse projeto ficará disponível no Museu Regional do Norte de Minas, como fonte de pesquisa”, informa.

Fonte: ASCOM PMMC

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